Criatividade: o Primeiro Passo para a Inovação
*Texto publicado no Medium.
Nos últimos anos, a criatividade e a inovação estão marcando presença no cotidiano das organizações tanto privadas quanto públicas. Isso foi motivado pela busca por soluções para problemas complexos e urgentes da sociedade, assim como para atender a demanda dos consumidores por novos produtos e serviços. Esses termos são cada vez mais utilizados em treinamentos, palestras, workshops e atividades diversas que envolvem, principalmente, startups e movimentos voltados para o empreendedorismo e a inovação. Mas qual a diferença entre criatividade e inovação? Essa é uma pergunta que acaba gerando dúvidas em várias pessoas. Não entender adequadamente essa diferença e quais fatores influenciam o processo criativo e inovador pode gerar dificuldades na hora de colocá-las em prática.
Diferença entre criatividade e inovação
A popularidade da criatividade e da inovação representa um sinal de que elas estão ganhando adeptos nas organizações. Embora estejam relacionadas, elas não são a mesma coisa. Para facilitar, vamos começar com uma definição bastante simples. A professora da escola de negócios da universidade de Harvard, Teresa Amabile, define criatividade como “a produção de uma ideia nova e útil por um indivíduo ou grupo de indivíduos trabalhando juntos”. A inovação organizacional é definida por ela como “a implementação bem sucedida de ideias criativas dentro de uma organização”.
Assim, a criatividade diz respeito ao processo de geração da ideia propriamente, ou seja, ao uso da imaginação para romper com convenções e padrões pré-definidos. Isso pode ser feito por meio da expertise, de um olhar diferente sobre o problema e da motivação para realizar um trabalho. A expertise em uma área de atuação ajuda a conhecer as regras do jogo, a identificar mais facilmente o que pode ou não funcionar e a acumular um repertório que será útil durante o processo criativo. A perspectiva não usual contribui para oferecer respostas fora do padrão e que direcionem a ideia para um caminho diferente daquilo que já foi feito até então na organização. A motivação eleva o comprometimento com o trabalho, fazendo com que as pessoas sejam mais persistentes e não desistam na primeira dificuldade que encontrarem.
A inovação, por outro lado, refere-se à tangibilização da ideia que foi gerada. Para que isso aconteça é importante ter uma equipe de trabalho talentosa e recursos financeiros/materiais suficientes para desenvolver o projeto inovador. A equipe de projeto precisa ser capaz de vender a ideia inovadora para aqueles que financiarão o projeto como, por exemplo, diretores da empresa ou investidores. Além do mais, é indispensável que a equipe tenha uma boa rede de relações no setor em que a ideia está sendo desenvolvida. Isso ajuda obter mais apoio e identificar potenciais clientes. A inovação só é possível se existirem recursos financeiros e materiais adequados para que a equipe de projeto possa prototipar, experimentar e testar a solução desenvolvida antes que ela se transforme em um produto acabado.
Tomando essas definições como ponto de partida, podemos dizer que a criatividade é o primeiro passo para a inovação. Ela é condição indispensável para o desenvolvimento de algo inovador. Ao mesmo tempo, do ponto de vista das organizações, a criatividade só tem valor caso se transforme em alguma coisa concreta: um produto, um serviço ou um processo que resolva um determinado problema.
Criar e inovar é como aprender a andar
Criatividade e inovação andam lado a lado. Pensem no processo de inovação como se fosse o processo de uma criança aprendendo a andar. Antes de conseguir a andar a criança passa pela fase de engatinhar. O processo de aprender a andar envolve engatinhar, tentar formas diferentes de se levantar, cair ao tentar ficar em pé, aprender com a tentativa frustrada, depois se levantar de novo e dar os primeiros passos sem muita segurança, cair novamente e tentar mais uma vez todo o ciclo até que após várias tentativas, erros e aprendizado a criança finalmente consegue andar.
Podemos dizer que engatinhar corresponde a criatividade e andar corresponde a inovação. A inovação só acontece depois de um processo criativo em que uma equipe de trabalho tem uma ideia criativa (criança engatinhando), faz experimentações diferentes para solucionar o problema (criança tentando se levantar), identifica que algumas dessas soluções não funcionam (criança caindo ao tentar ficar em pé), aprende com os erros cometidos (criança aprendendo com as tentativas mal sucedidas), experimenta novamente com outras soluções (criança tentando se levantar de novo) até que finalmente surge a inovação (criança conseguindo andar). Da mesma forma que engatinhar prepara a criança para andar, a criatividade prepara a organização para a inovação.
Apesar da simplicidade das definições e da analogia com uma criança aprendendo a andar, vários fatores influenciam a criatividade e a inovação. Esses fatores se dividem nos seguintes níveis: 1- individual; 2- equipe; 3- organizacional; 4- cultura nacional. Isso mostra que o seu uso e implementação nas organizações demanda atenção à alguns pontos que acabam sendo negligenciados.
Em um próximo texto eu abordarei cada um desses níveis.
Referência
Amabile, T. M. (1988). A model of creativity and innovation in organizations. In B. M. Staw, & L. L. Cummings (Eds.), Research in Organizational Behavior, vol. 10, pp. 123-167. Greenwich, CT: JAI Press.

